Adão e Eva

Autor: Jesús Campos García 
Título original: Entrando em calor 
Páginas: 48 
Personagens: 1h + 1m



Sinopse: 
A trama é simplesmente o que se chama um encontro às cegas. No seu desenvolvimento, vamos descobrindo a verdade. É uma verdade proteica, uma verdade que muda à medida que a realidade que percebemos se vai descascando como uma cebola. No princípio, as reservas que os protagonistas de um encontro às cegas guardam salvam-se com imaginação. Mais ou menos, ativam um princípio Noel Clarasó enuncia com estas palavras: “Ninguém consegue mudar o passado, mas poderá sempre controlá-lo ao contrário.” Adão e Eva, os protagonistas, projetam neles mesmos o problema da identidade. Atribuem-se nomes genéricos , os que foram criados pela agência de contactos que os apresentou. A deterioração da sua integridade física aparece como um sintoma de desumanização, e a sua incapacidade de entendimento, que a determinado momento pretende ser fingida, é uma profunda realidade que só a violência consegue resolver. Não é só a personalidade do protagonistas que nos surpreende. O espaço cénico também muda sem mudar. O Autor precisa que a ação se desenrola num “salão luxuoso de um apartamento do centro, mas desarrumado. Pela janela, veem-se a copa de uma árvore em estado lastimoso e as ruínas de uns edifícios em demolição”. Peso a projeção para o exterior que o diálogo nos induz a pensar, apercebemo-nos rapidamente que tudo acontece num mundo fechado, um mundo que aproxima a situação ao absurdo. Os alimentos e o entulho acumulados em qualquer lugar fazem-nos pensar nos “restos do naufrágio”. Como em Fim de Partida, de Beckett, o espaço fechado faz lembrar o efeito de um cataclismo que deixaram Adão e Eva sozinhos num mundo hostil, do qual nada podem esperar. A vida carece de finalidade, e a morte não é mais do que um acidente inerente à mesma. O Autor introduz o problema da liberdade enquanto capacidade de decisão, uma capacidade que se extingue uma vez tomada, mas que lhes serve para motivar as mudanças virtuais de personalidade e situação com que os protagonistas procuram inutilmente dar sentido às suas vidas. As mudanças que fingem não se tornam realidade, e as suas esperanças saem goradas. Em tempo de ficção do encontro às cegas – teatro dentro do teatro -, o erotismo não é o objetivo último. A esperança é uma impossibilidade revelada por Adão: “Não há prazer, não há desejo, não podemos ter filhos; então, para quê?...” Uma remota esperança, como a que aparece em Fim da Partida: o choro de uma criança, a que não se consegue aceder.Mas, atenção! O pessimismo existencial que se desprende produz-se apenas através de uma interpretação dos factos. O engenho e a experiência teatral do Autor vai deixando a descoberto os aspetos ridículos das situações, com um autêntico sentido de humor. 

Preço: 8€